O negócio do vinho

No editorial da revista Decanter de abril, Guy Woodward comentou sobre as dificuldades que o mercado inglês de vinho tem vivido ultimamente. No texto, Woodward aponta os supermercado como grandes vilões do mercado, pois vendem impulsionados somente por um fator: preço. Com isso, o vinho passa a ser interpretado como bebida alcoólica de baixo custo e sem nenhum valor agregado. Obviamente o consumidor responde a este único estímulo e toda a cadeia perde - produtores barateiam o produto e diminuem a qualidade, o supermercado só se preocupa com volume e retorno, e o consumidor deixa de procurar por qualidade e tipicidade. Por outro lado, no mesmo mercado britânico florescem iniciativas interessantes, de pequenos importadores cujos portfólios são mais focados, com ofertas direcionadas ao perfil de seus clientes e com serviços exclusivos e diferenciados. Cita o benefício de máquinas dosadoras de vinhos (como a Enomatic) e a possibilidade de se arriscar em novos rótulos sem que os preços sejam assustadores. O vinho passa a ser vendido pelos seus méritos e ponto. A decisão cabe ao consumidor. Deixa-se de vender um produto pelo custo e passa a se vender pelo seu valor, conforme prega Carlo Petrini.


Apesar do nosso mercado não viver o mesmo nível de maturidade e disputa do britânico, foi interessante notar que alguns estabelecimentos em São Paulo já atuam neste nível de inovação. Uma loja de vinhos multimarcas (que trabalha com vinhos de várias importadoras) - a Kylix - promoveu um "evento" onde oferecia degustações de 3 vinhos considerados tops. A simplicidade do formato é um grande mérito, prova-se somente o vinho que quiser (um, dois ou os três) paga-se um preço (no caso R$110,00 pelos três rótulos) e degusta-se tranqüilamente. Considerando que o preço das três garrafas somadas daria uma conta de quatro dígitos (não contando os centavos), o preço cobrado pela degustação pode ser considerado muito justo. O vinho passa a ser vendido pelos seus méritos, de acordo com o juízo do consumidor.


Os vinhos que provei foram:
Cobos Malbec 2006 – apesar dos 99 Parker, é um vinho over. Blockbuster passa a ser um adjetivo pequeno para descrever este vinho. Muita fruta, floral intenso, muita madeira, álcool, taninos... tudo muito de tudo. Se for para impressionar pode ser, se for para beber...
Flor de Pingus 2005 – uma ótima surpresa. É o segundo vinho do produtor, mas mostra uma categoria de primeiro nível. Peter Sisseck, não esconde sua formação bordalesa, ao se notar a assertividade do carvalho, não muito tostado, e não esconde sua predileção pela biodinâmica, ao constatar o equilíbrio e pureza da fruta. Tudo com a tipicidade de Ribera Del Duero. Um vinho que eu compraria.
Anaperenna 2006 – produzido por um produtor australiano bastante aclamado, Ben Glaetzer. 75% Shiraz e 25% Cabernet Sauvignon. Bons taninos, fruta sobremadura, notas de ervas e couro. Boa complexidade no nariz, um pouco quente em boca. Bom vinho, mas não chega a ser fora de série.

Postado por Marcel Miwa.

Comentários

Anônimo disse…
Olá,

Por acaso você é o Marcel que escreve na DiVino?
Sim, é o mesmo Marcel Miwa.

att,
N.

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