Champanheria?

Dia 28 de agosto de 2007, li uma reportagem no jornal O Estado de São Paulo (link no título do post) sobre as vinícolas brasileiras que produzem vinhos espumantes.
A reportagem citava o termo champanheria, o que me deixou em dúvida? O termo Champagne só pode ser utilizado por vinhos espumantes produzidos com o método champenoise na região de Champagne na França.
Envie um e-mail ao jornal e à Embrapa. A jornalista Marianna Aragão respondeu-me esclarecendo o equívoco.
Seguem os e-mail que enviei e o que recebi. Apreciei a educação dela em responder-me, porém achei vulgar o "especialista" usar este termo para "simplificar" a explicação para leigos. O melhor seria não subestimar a inteligência de leigos, informar/ensinar não é distorcer. Começamos este blog para os meus alunos e para não deixar passar em branco incidentes como este. E viva a liberdade de expressão!


Boa noite,
Meu nome é Nina Moori, meu pai é assinante do Estado de São Paulo há muitos anos. Trabalho com enogastronomia há 8 anos.Hoje estava lendo o caderno de Economia, na reportagem sobre Microempresas (Pequenas empresas se unem para enfrentar a concorrência), escrito por Marianna Aragão. Fiquei intrigada ao ler sobre "Champanheria", gostaria de saber se o termo foi criado pelas organizações das vinícolas que produzem espumantes ou se foi um termo utilizado por quem escreveu a reportagem.O termo "Champagne" só pode ser utilizado por vinhos espumantes produzidos (com método champenoise) na região de Champagne na França. Seria deselegante e contra a legislação de vinhos da França utilizar este termo para qualquer outro espumante.Das vezes que fui ao Rio Grande do Sul e à Santa Catarina visitar as regiões vinícolas não escutei niguém citando o seu espumante como um champagne. Mas mandarei um e-mail às associações citadas na reportagem.Por favor, precisamos prestar atenção para não cometer esses equívocos. Afinal não gostamos de ver o termo cachaça ser utilizado fora do Brasil.Grata pela atenção.Cara Nina Moori,recebi seu e-mail, com considerações bastante pertinentes, encaminhado pelo nosso departamento de atendimento ao leitor. A propósito da sua indagação, o termo "champanheria" foi utilizado por uma das fontes entrevistadas para a reportagem. O consultor do Sebrae especialista em vitivinicultura Gabriel Nunes usou-o ao referir-se às estruturas utilizadas na produção de espumantes, que foram recentemente adquiridas pela associação de Monte Belo do Sul (RS), a Aprobelo. Ao redigir o texto, conversei com meu superior a respeito da utilização da palavra. Optamos por usá-la pelo fato de ter sido empregada por um especialista da área para se referir, reitero, apenas às estruturas de produção. Talvez tenha falhado por não ter utilizado aspas, já que foi um termo adotado da fonte (entrevistado). Acredito ainda que o especialista deva saber sim, a diferença entre os termos espumante e champagne, e tenha usado "champanheria" apenas como uma forma de simplificar a explicação para leigos. Por fim, nenhum dos produtores entrevistados referiu-se a seu produto como espumante, da mesma forma que você constatou em sua visita ao sul do País.Agradeço muitíssimo a leitura e a atenção dedicada ao nosso trabalho e coloco-me à disposição para qualquer dúvida.Atenciosamente,Marianna Aragãorepórter Economia & NegóciosO Estado de S.Paulo

Postado por Nina Moori.

Comentários

Anônimo disse…
Que postagem ácida, Nina! Conheci o blog de vocês já faz um tempo e não me lembro de ler algo do gênero.
abs,
Paulo
Oi Paulo, aqui postamos sobre as nossas impressões e opiniões sobre o mundo da enogastronomia. Sim, fiquei irritada com a reportagem, mas maior que isso, creio na importância de não tratar o consumidor como um ignorante. Os meios de comunicação servem para divertir,informar e ensinar (pelo menos em teoria).
Volte sempre ao nosso blog,
Nina.
Sheila disse…
Nossa Nina, adorei sua atitude. Com muito respeito e delicadeza, mostrou que nem todos são leigos no assunto e justamente por isso, quem trabalha com disseminação de informação deve se atentar para que os dados sejam corretos, ainda que para as massas. Gostei e aprendi!
Oi Sheila, obrigada pelo apoio. Se todo mundo demonstrar que é um ser pensante, passam a nos respeitar mais!
bjinho,
Nina.
Anônimo disse…
Eu não discordei da forma (nem do conteúdo que escreveu), mas não tem receio de que os envolvidos reclamem?
abs,
Paulo.
Sylvia disse…
Nossa,que absurdo.Ele ,o tal especialista, entao poderia ter usado o termo "espumanteria" Duvido que hj em dia alguem mais ou menos informado nao saiba que é um espumante.Lamentavel
Oi Paulo, pensei bem antes de publicar no blog. Cheguei a conclusão de que não aumentei nem inventei nada. Apenas copiei e colei do meu e-mail (que está lá guardadinho). E se reclamarem é que estarão confirmando o erro deles...

Nossa, Sylvia, o termo espumanteria seria perfeito! Não vejo a hora de voltar para a região vinícola no sul do Brasil. Farei questão de dar uma passadinha na associação em questão.

bjos aos dois,
Nina.
Anônimo disse…
Alguns brasileiros compram milhares de garrafas de "champagne", proseco, cavas, etc., contrabandeados por nossas fronteiras.
No entanto, isto não importa, aí serve, pode, etc. Alegria geral, inclusive uma bolsa falsa entre outros artigos.
Não entendo a preocupação com o termo chamapnheria, quando os Estados Unidos, todo poderoso, não respeita a denominação de origem francesa.
Sinceramente, é muito preciosismo, já que nenhuma empresa brasileira séria se vale do uso termo champagne em seus rótulos, contrariamente aos norte-americanos.
Inclusive a 2 ou 3 empresas brasileiras que tem o direito de usar o termo champagne, pois utilizavam antes da imposição da proteção da região francesa.
Nós respeitamos, mas gostaria de saber o que entendem de fato por espumante, um comentário, pelo menos, me pareceu deveras pejorativo.
Entendo (resumidamente) que "espumante" é um vinho traqüilo que passou por mais um processo de fermentação (seja ela champenoise ou charmat).
Quanto aos EUA: não acho adequado ler o termo cachaça em uma bebida produzida fora. Patriotismo ou educação, entenda como quiser.
Obrigada pelo seu comentário.
Não se sinta ofendido, neste blog escrevemos sobre as nossas opiniões.

grata,
Nina Moori.
Comunidade Ativa disse…
Cara Nina,
eu estava produzindo um texto sobre áreas de lazer em condomínios que incluem champanherias e me deparei com o seu post, que já é antigo, mas que continua pertinente. Compreendo demais a sua indignação. Como jornalista, fecho com você, quando você diz que a inteligência do público não pode ser subestimada e sempre que algum especialista fala sobre o assunto que domina é importante que ele respeite as normas. Elas jamais podem ser burladas por ele, nem mesmo sob o pretexto da simplificação.
Porém, encafifei aqui com uma questão linguística, que gostaria de compartilhar com você.
Ora, o termo "champagne" virou "champanhe" no Brasil e os dicionários aceitam até "champanha" como sinônimo (feio, mas é aceito). Assim, durante uma temporada grande, a gente falava normalmente "champanhe", se referindo a qualquer vinho que fizesse espuma, o que os dicionários ainda aceitam como verdadeiro, porque permanece na voz do povo. Com esse acordo, por mais que doesse os corações franceses, até o George Aubert era brindado como champanhe nos reveillons familiares das areias de Guarapari. Aliás, nem só os vinhos espumantes eram champanhes. Afinal,até o Guaraná Antárctica era Champagne! Isso antes de, como devia, a França colocar ordem na confusão e proteger o próprio patrimônio.
Originalmente, claro, as champanherias são locais destinados à apreciação do champagne. Até porque deriva do francês "champagnerie". Mas, fico pensando: será que aqui no Brasil e em outras partes do mundo esses espaços nunca são invadidos por um espumante audacioso, que pouco se importa com o rigor das palavras?
Para apaziguar, eu teria uma proposta para os linguistas e para os enólogos. Da mesma forma que existem o Conhaque de Alcatrão São João da Barra e o Conhaque Presidente, que em nada fazem justiça ao pior cognac francês, que é da região de Cognac, o termo "champanhe" poderia ser liberado para falar até do espumante mais popular, enquanto "champagne" ficaria reservado para os vinhos espumantes daquela região francesa. Assim, na champanheria a pessoa poderia tomar até o George Aubert, enquanto as champagneries só aceitariam os champagnes.
Eu sei e concordo com você: as normas devem ser respeitadas.
Mas, se elas se transformam em amarras que impedem a evolução e acabam com a poesia, talvez precisem ser revistas.
Inclusive, elas podem até atrapalhar a vida de alguém. Por exemplo, os produtores de aguardente de qualidade aqui do Brasil encasquetaram com o termo "cachaça" para definir o destilado de cana nacional que, tecnicamente, pode ser visto como um rum. Se em lugar desse radicalismo, mesmo que provisoriamente, os produtores aceitassem a terminologia "brazilian rum", enquanto o termo "cachaça" não era dominado mundialmente, já teriam iniciado a comercialização da nossa bebida nos Estados Unidos há décadas. Porém, tiveram que esperar que o DEA aprovasse a cachaça como uma nova bebida, diferente do rum, o que, na realidade, não é tanto assim. Aliás, o próprio DEA sugeriu que aceitaria o brazilian rum, sem problemas, mas cachaça não. Essa teria que passar por todo o rigor norte-americano, o que acabou acontecendo. Resultado: anos de uma economia muito interessante parada.

Enfim, desculpe pelo textão. Mas, achei que valia a pena falar com uma pessoa tão capacitada, como o seu blog denota que você é.

Sucesso e...salut! Ou ... tin tin, como falam aqui no Brasil.

Carlos Alberto Rocha

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